segunda-feira, 29 de junho de 2015

Resenha - Na Natureza Selvagem


Já fazem algumas semanas que li Na Natureza Selvagem, nomeado Into The Wild originalmente, obra de autoria de Jon Krakauer. 

Acho que essa obra é curiosa porque a maioria das pessoas conhece primeiro o filme, se apaixona, e depois vai procurar a obra literária, e foi assim que aconteceu comigo. E quem faz isso vai descobrir de cara que o estilo do livro e do filme são bem diferentes.

A narrativa narra a história real vivenciada por Christopher McCandless, jovem de família de classe média/alta que nasceu na Califórnia, em 1968. A família de Chris se mudou para a Virgínia, aonde ele cresceu. 

Chris se formou na universidade em 1990, finalizando estudos em história e antropologia, com excelentes notas, e seus pais tinham altas expectativas de que Chris cursasse Direito. Mas o distanciamento intelectual de Christopher em relação à sua família fez com que eles não notassem o desprezo para com o que ele descrevia como materialismo vazio, e a forma de agir da sociedade, em especial em relação aos seus pais. 

Assim, Christopher, após sua formatura, doa o seu dinheiro, deixa seus bens para trás e parte em uma jornada pelos Estados Unidos, passando a se chamar Alexander Supertramp, seguindo os ideais de  Thoreau, Leon Tolstói e Jack London, em busca de experiências novas e enriquecedoras. Dois anos depois, seu corpo é encontrado sem vida em um ônibus no Alasca.

Essas eram as informações iniciais que Jon Krakauer possuía, e a partir daí inicia sua pesquisa. O livro, mais que um relato bibliográfico, é uma narrativa imparcial do que Chris realizou enquanto viveu como Alexander Supertramp. 



Chris, ou Alex, como agora era conhecido, viajou, geralmente de carona, por boa parte dos Estados Unidos, e conheceu dezenas de pessoas em seu caminho, que sempre se apegavam à sua personalidade forte, sua simpatia e seu desprendimento. Ficava por meses em localidades, até se cansar e acabar partindo novamente. O autor mostra que Chris tentou, inclusive, se enquadrar na sociedade "padrão", trabalhando por certo tempo em um McDonalds, tentativa que mostrou somente para Chris sua natureza diferente da dos demais, incapaz de parar.

Em certo ponto, Chris resolveu que o ponto máximo de sua aventura seria ir até o Alasca, sem grandes recursos, na tentativa de sobreviver em meio à natureza selvagem. Provavelmente sua maior inspiração para a escolha do destino foi o livro The Call of the Wild, de autoria de Jack London, idolatrado por McCandless.


Na medida em que Krakauer narra a sua saga para chegar até seu destino final, notamos o como Chris estava decidido, e que sabia dos riscos que corria. Em data desconhecida, McCandless chega ao seu destino, 

Já no início, como narra seu diário, Chris encontrou um ônibus abandonado, e passa a morar ali. E passa quatro meses vivendo em meio à natureza em sua forma mais primitiva, o que é uma marca realmente surpreendente, dada a sua escassez de recursos. Mas, ainda assim, comete um erro, que é fatal, ao se envenenar com algumas bagas que colheu. Os efeitos da intoxicação foram fulminantes, e Chris morre. Seu corpo é encontrado duas semanas depois, sem vida, dentro do ônibus. A última entrada em seu diário mostra que, apesar de saber a iminência de sua morte em seus últimos dias, Chris está satisfeito.

Jon Krakauer é um jornalista, e como tal, a obra é totalmente em tom jornalístico. As narrativas são imparciais, e o autor não tenta supor emoções não claras em McCandless. Ainda, os capítulos são entrecortados por outras análises, em relação à família de Chris, e experiências vividas pelo próprio autor, além de, e achei isso especialmente interessante, pessoas que tomaram atitudes parecidas com a tomada por McCandless, muito antes deste, indo frequentemente ao seu destino final no gelo e desolação do Alasca. 

As aventuras de Chris são mais resumidas do que no filme, e, notadamente, narradas com menos fantasia, apontando uma visão jornalística do que o jovem realizou. Por consequência, a narrativa da aventura de Chris em si, em especial antes de sua chegada no Alasca, é bem reduzida, e narrativas paralelas é que dão um pouco mais de "volume" ao livro (que ainda assim é bem curto). 


Mas para quem viu o maravilhoso filme baseado na mesma história, vale a pena ler, afinal existem alguns detalhes que são omitidos na obra cinematográfica, e que na minha opinião refletem bastante a personalidade de Chris, como alguém menos sonhador, mas um pouco mais duro consigo mesmo e com todos ao seu redor. 

E quem não viu o filme, nem leu o livro, FAÇA AMBOS! Mas em especial, se apaixone pela fantasia mais suave e embelezada do filme (além de se apaixonar pela trilha sonora, que é um tópico à parte). 





Na Natureza Selvagem - Jon Krakauer
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788571647879
Ano: 1998
Páginas: 214
Página no Skoob

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Um vício chamado Sarah Waters


Faz cerca de meia hora que terminei a leitura de Toque de Veludo, da autoria de Sarah Waters, e ainda estou sem ar. O motivo é simples: foi o primeiro livro que me fez chorar. Então, como é o terceiro livro da Waters que leio, nada como trazer um combo.

Sarah Waters nasceu no Reino Unido, e é na Inglaterra vitoriana que ela ambienta seus livros. As protagonistas são sempre mulheres, e o tema principal são romances lésbicos, assunto que é abordado com delicadeza, mas sem deixar de ir direto ao ponto.

Toque de Veludo (Tipping the Velvet) foi seu trabalho de estréia, lançado em 1998. Conta a história de Nancy Astley, que é, provavelmente, minha protagonista favorita até hoje. Nancy vive em uma pequena cidade litorânea, e se distrai indo aos espetáculos teatrais. Até que conhece uma artista em ascensão, Kitty Butler, que se apresenta vestida de homem, e se apaixona perdidamente. E, no começo, é quase impossível não se apaixonar também por Kitty. Nancy e Kitty vão juntas para Londres, e logo se envolvem, ao mesmo tempo que Nancy também passa a se apresentar em vários Music Halls, junto com Kitty, e as duas se tornam famosas. Mas Kitty começa a se sentir perturbada pela possibilidade do público descobrir que ela é lésbica, e, sendo uma babaca, abandona Nancy. Mas esse é só o comecinho da história, que tem uma centena de altos e baixos, e quando você sente que Nancy finalmente vai começar a se dar bem, e parar de sofrer, algo ruim acontece. E o final é de tirar o fôlego, simplesmente não conseguia parar de ler... Ah, o romance é ambientado na Inglaterra, no final do século XIX, e tem várias referências culturais legais, como o princípio do feminismo, o sufrágio feminino, e a própria questão da homossexualidade na época. Ainda não assisti o filme baseado no livro, mas a crítica não é ruim.

Na Ponta dos Dedos (Fingersmith) é a obra mais famosa de Waters. Foi publicado em 1999. Conta a história de Sue Trinder, uma orfã que cresceu em meio a ladrões em Londres. Com a ajuda de um gatuno, Gentleman, passa a ser uma espécie de camareira de Maud Lilly, que é herdeira de uma grande fortuna. O plano é que Gentleman, com a ajuda de Sue, iria seduzir Maud, de forma a tomar seu dinheiro, e Maud seria encarcerada em um manicômio.

 Mas o plano começa a dar errado quando Sue se apaixona por Maud, e  fica sem saber que atitude tomar. O livro não foca diretamente na  questão do romance homossexual - menos do que Tipping the Velvet -  mas, como o outro, tem muitas reviravoltas. Como é narrado ora por  Maud, ora por Sue, sabemos de alguns segredos que uma esconde da  outra, e que são cruciais. E o final é extremamente surpreendente,  sério, genial.
 Fingermith também tem um filme, mas, particularmente, acho a  adaptação cinematográfica muito "fria", não dá pra acreditar que Sue  e Maud realmente se gostam no filme, bem diferente da impressão  que o livro passa.

Ronda Noturna (The Night Watch) foi o primeiro livro que li da Sarah Waters, e foi por ele que me apaixonei primeiro. Conta a história de Londres na época da Segunda Guerra, e foca em quatro personagens, Helen, Viv, Duncan e Kay, que tentam sobreviver em meio ao cenário que se desenrola ao seu redor. Inicia em 1947, passa a 1944, e finaliza em 1941, aonde entendemos a origem de alguns dos dramas.
Helen e Kay são homossexuais, e vivem, em certo momento da história, um romance escondido. Duncan é só um garoto, que é preso porque seu melhor amigo se suicidou, mas logo notamos que ele perdeu muito mais do que um amigo. E Viv é irmã de Duncan, e se apaixona por um homem casado. É uma história dramática, com uma atmosfera pesada, mas que mostra o como o amor pode existir mesmo com tanta tristeza ao redor.

Waters ainda é autora de Afinidade (1999), Estranha Presença (2009) e The Paying Guests (2014), que ainda não foi lançado no Brasil.

Eu dei cinco estrelas para todos os livros no Skoob, e, dos que li, meu favorito é Toque de Veludo (até porque estou emocionada com o final dele ainda). E vale muito a pena, mesmo quem nunca leu um romance lésbico, ou até mesmo quem não é muito fã de romances, afinal, as histórias vão muito além disso.

Acredito que só é um requisito, para apreciar a literatura de Sarah Waters gostar de histórias ambientadas na Inglaterra não contamporânea, afinal a autora tem um capricho enorme com elementos que se relacionam, em especial, com a época vitoriana, causando uma sensação enorme de viagem no tempo.


Então, por hoje é isso. E fiquem de olho na nossa página do Facebook!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Resenha - Endgame: O Chamado


Hoje a resenha é do Endgame: O Chamado, de autoria de James Frey e Nils Johnson-Shelton. Confesso que, a primeira vista, imaginei que o livro seria apenas mais um inspirado em Jogos Vorazes, Grande engano.

A história nos traz o que seria a realidade sobre a vida na Terra. Seríamos criados pelo Povo do Céu, chamados no decorrer do livro de Anoraki, e a população mundial seria dividida em doze linhagens. E cada uma dessas linhagens, secretamente, tem sempre um jogador sendo treinado para o Endgame, um jogo que poderia acontecer a qualquer momento da história da humanidade, e que determinará o futuro, quem viverá e quem morrerá.

Nunca houve o Endgame, apesar de sempre haver um jogador preparado. Até o momento em que caem do céu diversos meteoros, matando milhares de pessoas. E marca o início do Endgame. Os jogadores sabem, assim, que terão que jogar e ganhar, para garantir a sobrevivência de sua linhagem. Se o jogador morre, e todos aqueles que são da linhagem dele morrem também,

O que os jogadores têm em comum é a idade, sempre entre 13 e 20 anos, e o alto treinamento que receberam, sendo exímios matadores, lutadores, sobreviventes, mas ainda sendo pessoas comuns. 

O jogo é simples: para vencer, o jogador deve conseguir três chaves, escondidas em algum lugar do planeta, e sobreviver. Não há regras, não é um jogo limpo.

A história é simples, em si, algo como uma ficção científica com muita ação e bastante violência, mas parte de uma premissa totalmente inovadora: há um enigma real, para o leitor desvendar. Nas páginas do livro há diversas referências, que levam para links para vídeos do Youtube que completam a narrativa, ou ainda as páginas do Twitter de cada um dos jogadores, o que torna a história ainda mais interessante, uma vez que é tudo extremamente detalhado.

E quem for o primeiro a desvendar o enigma (real) ganha um prêmio de quinhentos mil dólares.

Endgame: O Chamado é o primeiro livro de uma trilogia, e o segundo livro deverá ser lançado no mês de outubro. Ainda, a ação de marketing em cima é enorme, devendo ser lançado nos próximos meses um aplicativo, que permitirá ao leitor entrar ainda mais na realidade criada pelo Endgame.

Já foram confirmados, ainda, três livros "spin offs" que vão trazer mais sobre o jogo, em si, e suponho que mais sobre os jogadores antigos e os Anoraki, e que deverão ser lançados no mês de julho.

E, como é realmente muito marketing envolvido, podem esperar os filmes baseados nas obras, produzidos pela Century Fox, que está envolvida desde o início.

Mas vamos ao que interessa, por enquanto. O livro é dividido em capítulos, narrados em terceira pessoa. Cada um tem como foco um dos jogadores, o mais relevante naquele momento. Isso me confundiu um pouco no começo, até porque os jogadores têm personalidades muito diferentes, e nomes complexos. Mas logo escolhi meu jogador favorito, e fui me acostumando com os outros, inclusive me acostumei a detestar alguns.

O livro é 99% ação, e têm momentos claramente pensados para o cinema, em que chega a ficar um tanto quanto confuso o que realmente está acontecendo - explosões, ferimentos graves, tiros - mas que nas telas deverão ficar mais convincentes do que ficaram no livro.

A história é interessante, e é muito surpreendente, sério, rolam umas reviravoltas que eu não esperava. PORÉM, contudo, entretanto, dei quatro estrelas no Skoob. Achei ele muito enrolado em alguns momentos, pareceu que forçando a barra pra deixar algumas coisas importantes para o final. E o próximo livro deverá ser um pouco mais lento, até mesmo por algumas coisas que acontecem no O Chamado.

E vale uma atenção extra para a diagramação, o livro é lindo, dourado, com relevo e uma textura meio emborrachada nos destaques da capa. Há imagens, relacionadas ao enigma, em diversos momentos. Sobre o enigma, aliás, não sei muito, mas pretendo dar uma analisada nele nos próximos dias, li comentários de que é realmente uma diversão à parte...

Então vamos ficar de olho, logo vai ter continuação e o filme, e o Endgame tem todos os elementos para ser o novo Jogos Vorazes. Ao menos é o que o marketing em cima dele sugere :)


Endgame: O Chamado - James Frey e Nils Johnson-Shelton.
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580571868
Ano: 2014
Páginas: 504
Página no Skoob




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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Resenha - O Jogador n.º 1


O ano é 2044. Os recursos naturais estão cada vez mais escassos, e a desigualdade social é gritante. A crise energética e as guerras são presença constante nos noticiários. Não há muito além de caos, pobreza e desemprego. 

Esta é a base do cenário trazido por Ernest Cline, em sua primeira e primorosa obra, O Jogador nº 1, ou Ready Player One.

Dentro do cenário dessa distopia, OASIS, um jogo completamente interativo de realidade virtual é sensação mundial. Acessível à todos, OASIS passa a ser aonde a maioria da população mundial passa seu tempo, podendo ser quem quiser, o que quiser. Até mesmo as escolas são virtuais. E é Wade Watts, um estudante de 18 anos o protagonista da história. 

Wade, um órfão sem dinheiro que mora em um parque de trailers na vida real, é Perzival dentro do OASIS, aonde ele passa a maior parte do tempo. E é surpreendido com a notícia de que James Halliday. bilionário criador do jogo, deixaria sua enorme fortuna para quem localizasse um Easter Egg deixado por ele dentro do jogo, desvendando uma série de enigmas. Estes enigmas envolvem a cultura geek dos anos 80, obsessão de Halliday. 

Se passam anos sem que ninguém localize pistas do Easter Egg, apesar dos milhões de jogadores procurando. O concurso perdeu sua popularidade, virando uma espécie de lenda. Até que Wade encontra algo, e o mundo dentro do OASIS vira um caos. 

Lendo esse livro, mal pude conter minha empolgação. É impossível parar de ler, a narrativa é simples, mas nem por isso boba. O livro surpreende várias vezes, em algumas reviravoltas incríveis. E, talvez o melhor ponto: ele é CHEIO de referências à jogos, filmes, música, dos anos 80.

Como não amar um livro que menciona Star Wars, que faz menções inteligentes à Blade Runner, relembra o Atari e os bons tempos de Dungeons & Dragons? E essas referências são trazidas naturalmente, e mesmo quem não é muito fã de cultura geek, pode facilmente se localizar. 

Além de tudo, adorei o personagem do Wade, e o fato dele ser o primeiro a começar a localizar as pistas para resolver os enigmas não é uma surpresa, afinal ele se preparou muito pra isso, e é muito inteligente. Além de carismático, fugindo de qualquer clichê. 

A história é fantástica, prende do início ao fim, e, apesar de ser um livro relativamente grande, poderia ter mais umas 500 páginas de boa. Afinal, quando você chega no final, não tem como não ficar triste, cheguei a enrolar os últimos capítulos, por puro apego emocional ao livro.

Então se você gosta de cultura geek, LEIA ESTE LIVRO. E se não é bem sua praia, leia também, porque a história é perfeita. 

Dei cinco estrelas no Skoob, e definitivamente O Jogador nº 1 entrou para minha lista de favoritos.

E agora, a cereja do bolo. Foi confirmado que O Jogador n°1 vai virar filme, e... *momento de suspense* ninguém mais ninguém menos do que Steven Spielberg vai dirigir a obra. Ainda não existe data de lançamento, não há atores confirmados, mas fica uma curiosidade enorme do como vai sair esse filme, ainda mais se considerando a quantidade de referências a filmes de Spielberg que existem neste livro.



Jogador nº1 - Ernest Cline
Editora: LeYa
ISBN: 9788580442687
Ano: 2011
Páginas: 464
Página no Skoob





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