Já fazem algumas semanas que li Na Natureza Selvagem, nomeado Into The Wild originalmente, obra de autoria de Jon Krakauer.
Acho que essa obra é curiosa porque a maioria das pessoas conhece primeiro o filme, se apaixona, e depois vai procurar a obra literária, e foi assim que aconteceu comigo. E quem faz isso vai descobrir de cara que o estilo do livro e do filme são bem diferentes.
A narrativa narra a história real vivenciada por Christopher McCandless, jovem de família de classe média/alta que nasceu na Califórnia, em 1968. A família de Chris se mudou para a Virgínia, aonde ele cresceu.
Chris se formou na universidade em 1990, finalizando estudos em história e antropologia, com excelentes notas, e seus pais tinham altas expectativas de que Chris cursasse Direito. Mas o distanciamento intelectual de Christopher em relação à sua família fez com que eles não notassem o desprezo para com o que ele descrevia como materialismo vazio, e a forma de agir da sociedade, em especial em relação aos seus pais.
Assim, Christopher, após sua formatura, doa o seu dinheiro, deixa seus bens para trás e parte em uma jornada pelos Estados Unidos, passando a se chamar Alexander Supertramp, seguindo os ideais de Thoreau, Leon Tolstói e Jack London, em busca de experiências novas e enriquecedoras. Dois anos depois, seu corpo é encontrado sem vida em um ônibus no Alasca.
Essas eram as informações iniciais que Jon Krakauer possuía, e a partir daí inicia sua pesquisa. O livro, mais que um relato bibliográfico, é uma narrativa imparcial do que Chris realizou enquanto viveu como Alexander Supertramp.
Chris, ou Alex, como agora era conhecido, viajou, geralmente de carona, por boa parte dos Estados Unidos, e conheceu dezenas de pessoas em seu caminho, que sempre se apegavam à sua personalidade forte, sua simpatia e seu desprendimento. Ficava por meses em localidades, até se cansar e acabar partindo novamente. O autor mostra que Chris tentou, inclusive, se enquadrar na sociedade "padrão", trabalhando por certo tempo em um McDonalds, tentativa que mostrou somente para Chris sua natureza diferente da dos demais, incapaz de parar.
Em certo ponto, Chris resolveu que o ponto máximo de sua aventura seria ir até o Alasca, sem grandes recursos, na tentativa de sobreviver em meio à natureza selvagem. Provavelmente sua maior inspiração para a escolha do destino foi o livro The Call of the Wild, de autoria de Jack London, idolatrado por McCandless.
Na medida em que Krakauer narra a sua saga para chegar até seu destino final, notamos o como Chris estava decidido, e que sabia dos riscos que corria. Em data desconhecida, McCandless chega ao seu destino,
Já no início, como narra seu diário, Chris encontrou um ônibus abandonado, e passa a morar ali. E passa quatro meses vivendo em meio à natureza em sua forma mais primitiva, o que é uma marca realmente surpreendente, dada a sua escassez de recursos. Mas, ainda assim, comete um erro, que é fatal, ao se envenenar com algumas bagas que colheu. Os efeitos da intoxicação foram fulminantes, e Chris morre. Seu corpo é encontrado duas semanas depois, sem vida, dentro do ônibus. A última entrada em seu diário mostra que, apesar de saber a iminência de sua morte em seus últimos dias, Chris está satisfeito.
Jon Krakauer é um jornalista, e como tal, a obra é totalmente em tom jornalístico. As narrativas são imparciais, e o autor não tenta supor emoções não claras em McCandless. Ainda, os capítulos são entrecortados por outras análises, em relação à família de Chris, e experiências vividas pelo próprio autor, além de, e achei isso especialmente interessante, pessoas que tomaram atitudes parecidas com a tomada por McCandless, muito antes deste, indo frequentemente ao seu destino final no gelo e desolação do Alasca.
As aventuras de Chris são mais resumidas do que no filme, e, notadamente, narradas com menos fantasia, apontando uma visão jornalística do que o jovem realizou. Por consequência, a narrativa da aventura de Chris em si, em especial antes de sua chegada no Alasca, é bem reduzida, e narrativas paralelas é que dão um pouco mais de "volume" ao livro (que ainda assim é bem curto).
Mas para quem viu o maravilhoso filme baseado na mesma história, vale a pena ler, afinal existem alguns detalhes que são omitidos na obra cinematográfica, e que na minha opinião refletem bastante a personalidade de Chris, como alguém menos sonhador, mas um pouco mais duro consigo mesmo e com todos ao seu redor.
E quem não viu o filme, nem leu o livro, FAÇA AMBOS! Mas em especial, se apaixone pela fantasia mais suave e embelezada do filme (além de se apaixonar pela trilha sonora, que é um tópico à parte).
Na Natureza Selvagem - Jon Krakauer
Editora: Companhia das LetrasISBN: 9788571647879
Ano: 1998
Páginas: 214
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